Regras Ortográficas na Farmacologia

1. TERMOS FARMACOLÓGICOS

Atendendo à sugestão de um sócio, criamos esta aba para conscientizar nossos alunos e colegas sobre a necessidade de atualizarmos a forma escrita de acordo com a reforma ortográfica da língua portuguesa. De fato, apesar de já estar bem consolidada após 10 anos de existência, esta reforma ainda não é totalmente aplicada por nós das ciências biológicas e da saúde.

Graças ao link informado abaixo, esperamos incentivar e facilitar o uso correta da língua portuguesa na escrita dos termos próprios à farmacologia. Como exemplo de palavras ainda às vezes escritas de acordo com as regras antigas, podemos citar:

– Contra-indicação: este hífen já não existe mais, sendo o correto: contraindicação.

– Anti-adrenérgico: este hífen já não existe mais, sendo o correto: antiadrenérgico.

– Auto-receptor, autoreceptor: este hífen já não existe mais e tem que duplicar o “r”, sendo o correto: autorreceptor.

LINK PARA CONSULTA ÀS “NOVAS” NORMAS ORTOGRÁFICAS E GRAMÁTICAS:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/reforma-ortografica-veja-o-resumo-das-novas-regras.htm

RESUMO DAS PRINCIPAIS MUDANÇAS COM EXEMPLOS:
http://download.uol.com.br/educacao/UOL_Educacao_Conheca_as_novas_regras_da_Reforma_Ortografica.pdf

 

2. NOMES DE FÁRMACOS

Da mesma forma, é necessário incentivar o uso dos nomes corretos (legais) dos fármacos, na nossa língua portuguesa, adotando as Denominações Comuns Brasileiras (DCB). De fato, influenciados pelas nossas leituras de artigos e livros em inglês, é frequente o uso de nomes de fármacos diferentes dos DCB, às vezes em função de ortografia errada dos mesmos nas traduções de livros-texto.

Alguns exemplos de erros encontrados em livros e/ou sites muito usados como: https://pt.wikipedia.org/ e https://www.bulario.com/:

– Nifedipina em vez da DCB: nifedipino.

– Rofecoxib em vez da DCB: rofecoxibe.

– Zaleplon em vez da DCB: zaleplona.

Uma lista atualizada das DCB (em 27/12/2019) pode ser baixada no seguinte portal da ANVISA:
http://portal.anvisa.gov.br/denominacao-comum-brasileira

 

3. IDENTIFICAÇÃO CORRETA DOS FÁRMACOS E SEU IMPACTO NA POSOLOGIA

François Noël, agosto 2025
(revisado por André S. Pupo, UNESP-Botucatu)

  1. Identificação dos fármacos
    Todos os fármacos possuem um número de registro CAS (do inglês Chemical Abstracts Service, uma divisão da American Chemical Society), que permite a identificação precisa de qualquer substância química, já que sais e isômeros distintos de uma mesma molécula recebem números CAS diferentes. Por essa razão, recomenda-se o uso do número CAS em artigos científicos, protocolos e demais documentos técnicos, a fim de evitar erros na identificação das substâncias utilizadas.
    Para ilustrar a importância dessa prática, podemos citar o caso emblemático da cloroquina, cujo uso chegou a ser preconizado à época da pandemia para o manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19: a cloroquina base (C₁₈H₂₆ClN₃, CAS: 54-05-7) possui massa molecular de 319,88, enquanto o difosfato de cloroquina (C₁₈H₂₆ClN₃·2H₃PO₄, CAS: 50-63-5, forma anidra/pura), também chamado simplesmente de fosfato de cloroquina, apresenta massa molecular de 515,86, ou seja, 61% superior. Dessa forma, 150 mg de cloroquina base equivalem a 241,91 mg de difosfato de cloroquina; portanto, a identificação imprecisa do fármaco tem grande impacto na dose efetivamente administrada.
  2. Informações em rótulos e bulas de medicamentos
    É desejável que tanto as bulas quanto os rótulos de medicamentos apresentem de forma padronizada a dosagem dos princípios ativos, de modo a evitar confusões. No entanto, essa uniformidade nem sempre é observada, como demonstrado no caso da cloroquina: enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que prescrições e rótulos indiquem a dose em equivalente de cloroquina base, a indústria farmacêutica geralmente informa a dose com base na massa do sal, prática comum para a maioria dos medicamentos quando estes não estão na forma livre.
  3. Informações em protocolos de estudos clínicos
    Quando o fármaco e sua dosagem não estão claramente especificados, dois tipos de risco podem comprometer a integridade dos estudos clínicos:
    Erro na replicação de protocolos: a ausência de clareza pode levar à administração de doses incorretas, maiores ou menores do que as utilizadas no estudo de referência, o que compromete severamente a interpretação dos resultados encontrados.
    Inconsistência em análises retrospectivas ou meta-análises: caso diferentes centros ou países utilizem doses distintas do mesmo fármaco (por exemplo, ao usarem a base versus o sal), a comparabilidade dos dados pode ser comprometida. Isso poderia ocorrer em estudos multicêntricos com cloroquina.
  4. Informações sobre posologia em farmacologia experimental
    O cuidado com a correta informação sobre o fármaco usado em pesquisa experimental é especialmente importante em estudos in vivo, nos quais a dose costuma ser expressa em mg ou mg/kg. Já em ensaios in vitro, recomenda-se expressar a concentração em molaridade, o que evita ambiguidades e facilita a reprodutibilidade dos experimentos.
  5. Conclusões
    É fundamental que o nome do fármaco seja indicado de forma clara, preferencialmente acompanhado de seu número CAS e da respectiva dose. Essa recomendação geral deve ser aplicada tanto em protocolos de estudos clínicos, diretrizes terapêuticas quanto em artigos científicos, dissertações e teses na prática das nossas pesquisas em farmacologia experimental.

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